Recentemente, iniciei um curso livre de Neurociências Aplicadas à Educação, oferecido pela Universidade de São Paulo para educadores da rede pública e privada. O curso aborda conceitos básicos de neurociências e inclui os seguintes temas:
- Conceitos básicos sobre o Sistema Nervoso Central;
- Células especializadas do Sistema Nervoso Central;
- Neuroplasticidade;
- Memória e Aprendizagem.
Especialmente, no bloco 2. Células especializadas no Sistema Nervoso Central, me deparei com o artigo “Aspectos neurobiológicos do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH): uma revisão“, ISSN 1806-5821 – Publicado online em 20 de abril de 2010 na plataforma Ciência e Educação, Vol 15 (1): 241-251, cujos autores são Taciana de Souza Couto, Mario Ribeiro de Melo-Junior e Cláudia Roberta de Araújo Gomes. Para acessar o artigo completo, clique aqui.
O artigo, de forma geral, traz uma análise sobre possíveis origens do Transtorno e Déficit de Atenção e Hiperatividade, características do transtorno e opções terapêuticas. E há alguns pontos específicos que quero destacar aqui. As pesquisas sobre os aspectos neurobiológicos do TDAH apontam para algumas diferenças estruturais e funcionais no cérebro de pessoas com o transtorno, incluindo:
- Alterações em regiões cerebrais envolvidas na atenção, controle inibitório e recompensa: Como o córtex pré-frontal, os gânglios basais e o sistema límbico. O córtex pré-frontal é responsável pelo planejamento de um comportamento cognitivo complexo, na expressão da personalidade, na tomada de decisões e na moderação do comportamento social; já os gânglios basais ajudam a iniciar e suavizar os movimentos musculares, suprimir os movimentos involuntários e coordenar as mudanças de postura; por sua vez, o sistema límbico é responsável por todas as respostas emocionais.
- Diferenças no desenvolvimento cerebral: Estudos sugerem que o cérebro de crianças com TDAH pode se desenvolver de forma diferente em comparação com o cérebro de crianças sem o transtorno. Por exemplo, o amadurecimento de forma mais lenta e desigual em determinadas partes do cérebro.
- Alterações nos neurotransmissores: A dopamina e a noradrenalina são neurotransmissores que desempenham um papel importante na atenção e no controle impulsivo, e suas funções podem estar alteradas em pessoas com TDAH. De acordo com estudos apontados no artigo, pessoas com TDAH possuem o neurotransmissor dopamina de forma mais reduzida no cérebro, o que faz seus sentimentos de alegria e prazer serem bem mais intensos do que os de uma pessoa sem o transtorno.
Os autores expressam que “trabalhos recentes encontram evidências de que o TDAH se trata de um distúrbio neurobiológico. Dois grupos de pesquisas atuais têm resultados que atribuem a este transtorno duas possíveis causas: uma relacionada ao déficit funcional do lobo frontal, mais precisamente o córtex cerebral; e a outra ao déficit funcional de certos neurotransmissores”. e Já “pesquisadores como Barkley (2002) acreditam ainda que o TDAH se evidencia por um déficit básico no comportamento inibitório. Uma deficiência em determinadas áreas nas quais o cérebro deveria comandar” (COUTO; JUNIOR; GOMES; 2010, p.243). Mas os autores destacam que, “contudo, apesar dos variados fatores que influenciam o desenvolvimento do TDAH, cada vez mais se constata que a etiologia do transtorno é neuro-genético-ambiental […], ‘causado’ por um conjunto de aspectos biológicos, genéticos e cerebrais” (COUTO; JUNIOR; GOMES; 2010, p.244).
Por fim, o artigo aborda as opções terapêuticas: O tratamento do TDAH abrange abordagens múltiplas, envolvendo intervenções psicossociais e também psicofarmacológicas. “A utilização de medicamentos visa estimular o sistema nervoso central (SNC), aumentando a disponibilização dos neurotransmissores, dopamina e norepinefrina em partes específicas do cérebro” (COUTO; JUNIOR; GOMES; 2010, p.248). Contudo, os autores alertam que “os pais vêem o uso de medicamentos com certa preocupação e tentam retardar ao máximo este momento, recorrendo a tratamentos alternativos” e que “… foram desenvolvidas outras modalidades terapêuticas para o TDAH, porém, não
existe comprovação de que qualquer uma delas seja tão eficiente quanto a medicação, e o tratamento psicoterápico não deve ser visto como uma alternativa ao tratamento farmacológico, e sim como uma medida complementar, especial para alguns casos”.